O caráter é um sistema composto por tendências diversas, ligadas entre si por certas relações de coordenação e subordinação. Essas tendências, e também sua importância relativa, o modo particular de sua combinação, tudo isso vem, em parte, do temperamento físico e moral inato e, em parte, das transformações que o meio, as circunstâncias, o próprio curso da vida e, enfim, as reações próprias da vontade e da razão lhe fizerem sofrer. Se os homens conhecessem melhor o seu caráter, aprenderiam a evitar não somente infortúnios, mas falhas. Saberiam melhor o que podem e também o que devem. Pois existe, em certo sentido, um dever absoluto e imutável, um ideal comum do bem. Mas também é preciso admitir que o dever se diversifica de mil maneiras diferentes, que esse ideal se refrata em mil raios quando atravessa as consciências individuais. O que existe, na realidade, é a infinita complexidade das obrigações particulares, e assim como elas dependem das circunstâncias em meio às quais o agente moral se encontra, da mesma forma elas dependem da natureza desse agente, de suas aptidões, de suas energias, de sua consciência, de seu caráter.